Relato de um dia nas Urgências!
Após várias horas de trabalho, em que tinha já prestados cuidados a numerosos doentes, surge uma que me prende o olhar! Perdida naquele corredor, perfilava-se uma Senhora como nós, com uma expressão de terror, estampada na face! Deslocara-se ao S.u. por uma dor intensa e que com os seus saberes empiricos, já tinha feito o seu diagnóstico!
Aproximei-me vi-lhe os sinais vitais, num ápice estendeu-me o braço direito e disse "que estava muito nervosa, que ia morrer“.
Após várias horas de trabalho, em que tinha já prestados cuidados a numerosos doentes, surge uma que me prende o olhar! Perdida naquele corredor, perfilava-se uma Senhora como nós, com uma expressão de terror, estampada na face! Deslocara-se ao S.u. por uma dor intensa e que com os seus saberes empiricos, já tinha feito o seu diagnóstico!
Aproximei-me vi-lhe os sinais vitais, num ápice estendeu-me o braço direito e disse "que estava muito nervosa, que ia morrer“.
Antes que o médico fosse falar com ela passei uns bons 5 minutos a falar com ela, nesse espaço contou-me seus medos e a sua dor tinha já aliviado significativamente. Referiu que tinha discutido, com alguém estava muito nervosa e de repente havia sentido uma imensa falta de ar!
Após ter avaliado as tensões e a conversa entendi o retrato, da sua cara anteriormente tensa, escorriam lágrimas e disse-me que desde que lá tinha entrado na maca (há já 20 minutos) tinha sido a primeira Pessoa a falar-lhe, depois de os Bombeiros a terem despejado naqule local.
Nisto é vista pelo Médico, colhe a história e seguem-se a bateria de análises, após ter sido submetida a tudo isso, fica no corredor a aguardar resultados!
Nisto entram no sector mais utentes cada qual com sua patologia ou sua maleita! Não falei mais com a Senhora, durante un bom bocado, consiguindo no entanto manter contacto visual e auditivo, mas esta havia ficado na cama, pensativa !
O turno acalmou, finalmente! Revejo as histórias as medicações, o bem-estar dos utentes e o estado posicional! Falo novamente com a mesma Senhora mais calma, sem dor, mas sozinha!
Confessa-me que faz muito bem passar pelo lado de doente, afinal é médica, segundo ela “um com pouca paciência para situações de não urgência ou Histéricos” e que aquele episódio tinha sido o primeiro no seu historial.
Após ter avaliado as tensões e a conversa entendi o retrato, da sua cara anteriormente tensa, escorriam lágrimas e disse-me que desde que lá tinha entrado na maca (há já 20 minutos) tinha sido a primeira Pessoa a falar-lhe, depois de os Bombeiros a terem despejado naqule local.
Nisto é vista pelo Médico, colhe a história e seguem-se a bateria de análises, após ter sido submetida a tudo isso, fica no corredor a aguardar resultados!
Nisto entram no sector mais utentes cada qual com sua patologia ou sua maleita! Não falei mais com a Senhora, durante un bom bocado, consiguindo no entanto manter contacto visual e auditivo, mas esta havia ficado na cama, pensativa !
O turno acalmou, finalmente! Revejo as histórias as medicações, o bem-estar dos utentes e o estado posicional! Falo novamente com a mesma Senhora mais calma, sem dor, mas sozinha!
Confessa-me que faz muito bem passar pelo lado de doente, afinal é médica, segundo ela “um com pouca paciência para situações de não urgência ou Histéricos” e que aquele episódio tinha sido o primeiro no seu historial.
-" Isto foi tudo da minha cabeça, tudo componente nervosa a falar"-refere
-"Neste tempo de espera revi todos os momentos de profissão, como médica,em que por excesso de trabalho, ou incompreensão perdi alguma paciência com doentes neste meu estado, de ansiedade ou histerismo, não ?! Consegui ficar melhor na conversa que tivemos, antes de ser observada que em todo o caminho para aqui"-desabafa
Estava melhor, já sem dor, com face serena, calma, era o SEU EU equilibrado que me falava agora!
Mais tarde ao reflectir, soube-me muito bem esta realidade, essa em que 5 minutos de conversa perduram na alma e no bem estar, tenho a certeza que não foi só a medicação que a melhorou!
Pensei em todas as outras pessoas, em que por uma razão ou outra não se pode perder esses 5 minutos! Será que nós, Enfermeiros com o passar dos anos e o desgaste do trabalho, formações, duplo trabalho, excesso de trabalho,falta de condições de trabalho(...), conseguimos “perder” cada vez mais tempo e enveredar pela HUMANIZAÇÂO dos serviços!
Mais tarde ao reflectir, soube-me muito bem esta realidade, essa em que 5 minutos de conversa perduram na alma e no bem estar, tenho a certeza que não foi só a medicação que a melhorou!
Pensei em todas as outras pessoas, em que por uma razão ou outra não se pode perder esses 5 minutos! Será que nós, Enfermeiros com o passar dos anos e o desgaste do trabalho, formações, duplo trabalho, excesso de trabalho,falta de condições de trabalho(...), conseguimos “perder” cada vez mais tempo e enveredar pela HUMANIZAÇÂO dos serviços!
A humanização dos serviços de saúde, tal como diz Lima Bastos, “passa por recolocar os utilizadores no seu lugar próprio, de pessoas dignas, com direitos e deveres, capazes de decidir por si. É colocar as pessoas no centro das suas actividades”.( BASTO, M. L. – Humanização em notícia, pág. 2)
Concluo com :
“Não se cura um desesperado com alguns comprimidos. Esses podem adormecer-lhes os males, podem às vezes, suprimi-los, faze-lo menos desesperado; mas a felicidade, aspiração essencial
de todo ser humano não se distribui em cápsulas ou injecções.”
de todo ser humano não se distribui em cápsulas ou injecções.”
Riquet
4 comentários:
Quantas vezes passamos pela experiência de ser o doente e não gostamos?
E porque é que temos que estar sempre a fundamentar com um autor aquilo que ressalta a olhos vistos, será que não temos massa crítica como ser único e indivissível que somos!???
Humanização: eis um tema recorrente! Sempre me disseram na Escola que Ser Enfermeiro não é fácil. E a diferença entre o bom e o máximo é feita destes pequenos grandes pormenores. É que qualquer um, com maior ou menor dificuldade, consegue puncionar ou algaliar um doente, por exemplo. Mas o mesmo não se passa na capacidade de entrega e do estabelecimento de uma relação empatica e de ajuda com o doente...é isto que faz a diferença, o saber escutar é fundamental na nossa profissão! E também umas simples palavras nossas, podem ter efeitos mais vantajosos num doente do que um medicamento! Deixo estas notas á consideração.
Um abraço!
Encontrei este blog quase por acaso... e adorei!
Obrigada por partilhares estes momentos connosco!
Só nos damos conta que estes pequenos momentos têm muita importância quando alguém nos diz que a conversa que tivemos com eles lhes fez bem!
Mas e aqueles que simplesmente nao coneguem verbalizar o que sentem... Será que também têm os seus 5 minutos de conversa com o enfermeiro que o cuida?!?! Só que esse não agradece com palavras, agradece com o olhar... E esse olhar vale muito mais que muitas palavras.
Esta é apenas uma pequena parte das minhas vivências, num serviço de Medicina.
Fiquem bem... Isabel
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