Podia ser,ser mais
uma história esta que aqui vos conto, mas infelizmente é baseado, num episódio que me aconteceu. Todos os dias nos nossos locais de trabalho, cuidamos de pessoas, tendo um tempo estimado, calculado para atender cada um, trabalhamos ao segundo.
Lutamos contra a morte, defendemos a vida, em condições não ideais, com falta de meios recursos, com falta de descanso por vezes... Alguns serviços são mais complicados, ou seja envolvem muita gente, muita confusão, tempos de atendimento e prioridades muito bem definidas e interiorizadas mentalmente.
Foi neste cenário confuso, caótico, enfim numa Urgência, que conheci a senhora T, não tinha um diagnóstico nem uma prioridade emergente, nem grave, simplesmente estava doente. A sua vinda à Urgência, talvez até fosse evitável se o centro de saúde onde é seguido o tivesse atendido,mas a consulta só seria possível dentro de um mês, em suma veio ao S.U. por uma dor abdominal.
Após ter sido medicada e ter passado umas boas horas nas urgência a fazer horas que os exames chegassem e a medicação fizesse efeito, teve alta. Aproximei-me dela, conversei um pouco, aproveitei mesmo para fazer um ligeiro ensino para a saúde e após tudo isso esta jovem abraça-me e chora copiosamente.
Apanhado desprevenido, pergunto-lhe qual a razão, qual o motivo afinal ainda lhe doía algo ? A tudo respondia não, e soluçava copiosamente, sem conseguir parar. Após uns bons 10 minutos, consegui-se acalmar e tristemente confessou-se:
- "estou casada, tenho um filho (pequeno), o meu marido trabalha, mas o dinheiro, não dá para tudo, sabe sr. Enfermeiro, fiquei desempregada à pouco e ainda aguardo indemnização e carta de desemprego. Vim cá às urgências, após alguma insistência pois tinha medo do que teria que pagar. Agora tenho alta e tenho esta medicação toda para comprar e não tenho dinheiro, nem para os medicamentos, nem para pagar a consulta..."
Paramos, tanto Eu como o médico que entretanto tinha seguido o som dos soluçares e do choro. Tínhamos ali à nossa frente uma mulher jovem de trintas, deprimida, envergonhada
e sem soluções para os problemas que tinha. Sinais dos tempos! Sinal da depressão económica em que vivemos!
Marcou-me, incomodou-me mesmo este episódio, no final resolveu-se(tratamos a parte aguda) apenas parte do problema, chamamos a assistente social e a medicação, bem como o pagamento do episódio de urgência foi pago.
Na confusão, no trabalhar ao segundo, quantas vezes não nos apercebemos das dificuldades de cada pessoa? Tudo surgiu numa simples conversa, num dialogo de ensino e de despedida de um serviço. Aconteceu-me e por isso aqui partilho aqui convosco...
Bom trabalho!
Ps: Obrigado ao Criancices pelos Prémios, deixaremos nos proximos Post resposta.