17 setembro 2007

Relato de uma Prostituta

"Sou Prostituta assumida, daquelas que vendem o corpo numa Rua qualquer, encostada à fachada de um esquina. Uso roupas de censura forradas com etiquetas do pecado.

O freguês escolhe a ementa e sirvo qualquer prato, desde que ele seja pago em dinheiro. Fiz desta a minha profissão, chamam-me tudo, rameira, mulher da má vida mas é mesmo isso que sou.

Ficava mais ofendida se me chamassem secretaria ou Doutora, porque não o sou.

Já me habituei a ser tratada como escumalha, sem direitos, sem respeito nem razão sou apenas uma sombra na escuridão.

Quantas vezes já fui violada, espancada e as queixas que apresentei foram ignoradas, na gaveta da indiferença, fui ainda chacota e enxovalhada por não falar direito de tanto ser penetrada, mutilada e desfigurada.

Não sou pessoa conceituada pertença de outra podridão, olharam para mim, mandaram-me preencher um papel com os meus dados pessoais. Ali naquele preciso momento tive a percepção que era mais insignificante do que um animal em extinção.

Fui apenas mais uma puta violada porque quem vive nesta perversão de vida não merece mais nada!!!

Testemunho real de uma prostitua assumida, que muito me chocou. Se esta profissão existe, é porque há bastante procura. Não será a sociedade a mais culpada, a que mais censura" (Jornal de Noticias, dia 16/09/2007,página 26 autor Conceição Bernardino).

Li e reli e também fiquei chocado, quer pela realidade descrita, quer pelo que por vezes deixamos acontecer, como sociedade. Sei que é um assunto polémico, cínico para muitos, mas a PROSTITUIÇÃO EXISTE e não vale a pena ignorar, nem olhar para o lado.
Somos profissionais de saúde e estando actualmente HIV e outras doenças Sexualmente transmitidas em crescendo, será que citando um professor - " uma das medidas a tomar não passaria pela LEGALIZAÇÃO da PROSTITUIÇÃO." Sei que existem projectos de saúde que passam pela vigilância\reinserção desta população, destas pessoas, que são iguais a nós e tem o mesmo direito. Reparem que esta MULHER descreve ter sido espancada, violada, tendo sempre a mesma resposta a indiferença, a ignorância, algo que num outro caso, numa outra mulher certamente não aconteceria...Houve falhas!
Existem soluções, já tiveram algum relato coincidente com esta confissão? Comentem...

4 comentários:

Anónimo disse...

No entanto legalizamos o aborto, somso de facto uma socieda hipocrita.

Confesso que também fiquei chocado com a descrição embora acredite que esta é a realidade de muitas.

Nuno Costa disse...

Um problema, entre muitos outros, de que a nossa sociedade padece... se me perguntarem qual a solução, não sei responder! Mas penso que passa em primeiro lugar por uma politica social adequada, que permitam a todos terem melhores condições de vida a todos os níveis...mas só com o "choque tecnologico", não vamos lá!

Abraço!

Ana G disse...

tanta coisa teria que mudar, quero dizer, mudar problemas de base, para que outros pudessem ser transformados em problemas-minor da sociedade. não nos podemos esquecer que Portugal ainda é muito jovem, apesar de cronologicamente não aparentar... a questão é que vivemos séculos de monarquia-antiga, depois facismo, tudo isto acompanhado sempre do peso da igreja que, apesar do seu conteúdo cheio de boas intenções a verdade é que deixa avançar pouco... enfim... estaria para aqui a falar e nunca mais me calava e ainda me transformava numa comentadora controversa neste blog tão afável :)

Blogger de Saúde disse...

Somos por vezes um País de brandos costumes, noutras demasiado permissivos...Concordo, que por vezes as boas intenções, não passam mesmo disso de intenções, pelo que é necessário agir.

Sei que existem vários projectos e apoio a estas mulheres, para as integrar e ajudar no que é possivel. Deixo a pergunta, será que não seria um tema a abordas na assembleia da Republica , a prostituição?

O peso da Igreja penso que está a diluir-se, acho que nem tudo foi mau, no entanto mas que esta (igreja), também precisa de acompanhar a evolução da Sociedade e não atrasa-la, ou andar um passo atrás (como é o caso do preservativo)!

Obrigado pelo comentário, e não tenho medo de ser "uma comentadora controversa"- apareça mais vezes, gosto dos seus comentários.