05 outubro 2007

Dia Mundial dos Cuidados Paliativos

A morte como parte integrante do ciclo da vida humana para além de um processo biológico natural, encerra na sua essência um processo social, bastante doloroso e complexo, quer a nível pessoal, quer a nível familiar.

O ser humano é o animal que pensa na sua própria morte[1]. Tem conhecimento que a sua presença não foi nem será infinita, conhecimento este que o incómoda e perturba. A morte encerra em si um mistério que ultrapassa o conhecimento biológico e científico.
A morte é o fenómeno mais universal. Toda a gente acha natural e dá sub entendido que há que morrer. E, no entanto todo o homem vive um protesto secreto contar a morte e um inextinguível horror perante ela.[2] .

O crescente aumento da tecnologia científica, a evolução dos conhecimentos médicos, cirúrgicos e biológicos tornou possível a recuperação e tratamento de patologias que até então seriam consideradas irreversíveis, limitando assim o tempo de vida do ser humano.

Há algumas décadas atrás, morrer em casa, junto dos familiares e amigos, respeitando as crenças e costumes da pessoa doente em fase terminal, eram considerados um processo digno e natural do ciclo vital do homem.[3]

Actualmente a morte perdeu o carácter familiar e social que possuía; cada vez mais as pessoas morrem em instituições hospitalares cercados de fios e maquinaria, muito frequentemente “abandonados” numa maca do serviço de urgência ou na solidão de um internamento, sem o carinho e o apoio dos entes queridos, sem a dignidade de que é merecedor qualquer ser humano. Assim, o viver mais em quantidade de anos poderá não implicar viver melhor, com melhor qualidade de vida.

Hoje, dia 6 comemora-se o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, pelo que deixamos um vídeo (em espanhol) que retrata o que são estes cuidados. Faz uma retrospectiva historica e termina com testemunhos actuais.

Bibliografia

[1] LEPARGNEUR, Hubert – Lugar actual da morte. Antropologia, Medicina e Religião. São Paulo, 1986: 28,29
[2] RAHNER, Kart - Sentido teológico de la muerte. Barcelona, 1965: 60
[3] Cf SERRÃO, Daniel – Ética em Cuidados de Saúde. Porto Editora, 1998: 86

13 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do que li. Parabéns. O Blog no inicio da pagina tem erros.

Anónimo disse...

Os enfermeiros (que o são de verdade) sempre estiveram ao lado dos doentes em fase terminal - não vem daí a lanterna de FNightingale, que fazia de noite a sua ronda pelos doentes moribundos?...
Com o aumento da tecnologia, a medicina afastou-se das pessoas e muitos enfermeiros foram atrás.
Os cuidados paliativos surgem agora como uma especialidade médica e os enfermeiros parece que estão a descobri-los, também... em vez de afirmar o que sempre fizeram: promover uma morte serena, como dizia V Henderson.
O que são os cuidados de enfermagem paliativos senão cuidados básicos de conforto e alivio dos sintomas?

Blogger de Saúde disse...

Concordo, com a manuela, apesar de que faltou aí a comunicação, o estar presente, o ter tempo para estar, para ouvir... Para ser Enfermeiro.

Pois já dizia Virginia Henderson a"função própria do Enfermeiro é assistir o indivíduo, são ou doente, na realização das actividades que contribuem para a saúde ou sua recuperação (ou uma morte serena) e que ele desempenharia se tivesse a força, a vontade e os conhecimentos necessários."

Infelizmente são poucos os serviços em que se tem tempo para Ouvir, para estar com as pessoas, mas existem! Agora só se tem que pegar nesses exemplos!

Rosa Silvestre disse...

Colegas, o Criancices também está a tratar do tema que é um tema bastante
difícil para quem trabalha numa Pediatria (directa ou indirectamente). Gostamos de ver e ouvir as gargalhadas das crianças e jovens e não a sua tristeza.....
Gostei do texto e do vídeo.
Bom fim-de-semana!

Anónimo disse...

Um post muito lúcido e oportuno.
Um blog muito sábio e caloroso.
Grata

MARVI disse...

Parabéns pelo post.
De facto, se a medicina paliativa aparece como nova nos tempos de hoje - mas que é também anterior à moderna medicina curativa -, os cuidados (próprios da enfermagem) nunca descuraram esta parte - como diz a Manuela.

Caro Enf Sérgio, o alívio do sofrimento daqueles que vivem o fim dos seus tempos, exige tempo, mas, sobretudo, mais tempo do coração que do relógio... em qualquer serviço há enfermeiros capazes de Ouvir e Cogitare - preocupar-se com os outros, em qualquer serviço há também enfermeiros surdos perante o sofrimento dos outros seres humanos... infelizmente.

Mas cada vez mais os profissionais de saúde, e a sociedade em geral, ficam atentos a esta realidade, felizmente.

Bom trabalho!

PS.: sugiro que anexem a 2ª e 3ª parte do filme, com completam a divulgação dos cuidados paliativos.

Anónimo disse...

Tb gostei do filme parabéns aos dois, este blog é muito util, para quem estuda e para quem quer saber o que é enfermagem.

Isabel (não consegui colocar como registado, como se faz?)

Anónimo disse...

Há continuação do video! Gostaria de ver, pois gostei de o ver e percebesse bem apesar de ser em Espanhol!

Maria da Luz disse...

Sou sens�vel ao tema
Concluo:
_Todos sabemos cuidar, todos temos para dar, todos cuidam o melhor poss�vel mas, o Cuidar em "Cuidados Paliativos" permitam-me que vos diga:
Aqui o cuidar � diferente.
Cuidar de si em primeiro, pois s� se d� aquilo que se tem para se dar, Cuidar do doente, Cuidar do familiar.
Passando isto pela constante luta entre morte, vida e vontade ou n�o de viver, encontrar respostas, em que por vezes a �nica resposta � saber deixar morrer com dignidade e ensinar a aceitar a vida que resta, ou a aceitar a morte que espreita, tudo isto com a mesma nobreza e tranquilidade...
E em que mais � diferente?
Tantas outras coisas que felizmente levaram a que as Unidades de Cuidados Paliativos fossem Criadas no nosso pa�s � semelhan�a de outros pa�ses pioneiros nesta �rea.

Maria da Luz disse...

Sou sensível ao tema
Conclusão:
Todos sabem cuidar, todos temos para dar, todos cuidam o melhor possível mas, o Cuidar em "Cuidados Paliativos" permitam-me que vos diga:
Aqui o cuidar é diferente.
Cuidar de si em primeiro, pois só se dá aquilo que se tem para se dar, Cuidar do doente, Cuidar do familiar.
Passando isto pela constante luta entre morte, vida e vontade ou não de viver, encontrar respostas, em que por vezes a única resposta é saber deixar morrer com dignidade e ensinar a aceitar a vida que resta, ou a aceitar a morte que espreita, tudo isto com a mesma dignidade e tranquilidade..
E em que mais é diferente?
Tantas outras coisas que felizmente levaram a que as Unidades de Cuidados Paliativos fossem Criadas no nosso país á semelhança de outros países pioneiros nesta área.
Repito pois acho que está confuso

maria disse...

Parabéns Mª da Luz! Espero que o Enf. Sérgio aproveite o seu comentário para propor uma reflexão séria sobre um tema tão importante como este.

Gostaria ainda de realçar "...só se dá aquilo que se tem para dar"
Obrigada por ter comentado.

Blogger de Saúde disse...

Deixo algumas frases, que resumem algumas das ideias aqui apresentadas:

“O que são os cuidados de enfermagem paliativos senão cuidados básicos de conforto e alivio dos sintomas?”

"Todos sabem cuidar, todos temos para dar, todos cuidam o melhor possível mas, o Cuidar em "Cuidados Paliativos" permitam-me que vos diga:
Aqui o cuidar é diferente."

"...só se dá aquilo que se tem para dar"

“O alívio do sofrimento daqueles que vivem o fim dos seus tempos, exige tempo, mas, sobretudo, mais tempo do coração que do relógio...”

Concordo e nem poderia questionar, estas frases que descrevem a Realidade que é cuidar do doente, da pessoa, da família. Como Enfermeiros, evoluímos analisando o nosso percurso, as nossas falhas. Afinal quando se tem certezas sobre algo, falhamos.

Houve uma experiência que me marcou, que envolveu um Familiar nosso em estado terminal, foi hospitalizado e ficou numa unidade de Cuidados Paliativos (na altura fiquei admirado pelas condições fisicas e Humanas, já lá vão 6 anos). Adoramos tudo naquele local, a paz, a calma, o tempo que surgia aliado à disponibilidade do coração… Lembro-me de vários Enfermeiros e Médicos, conversarem com o doente, com a família!

Acredito que não deva ser fácil e que traga um desgaste Emocional intenso em todos os profissionais envolvidos, mas aquela sensação de paz, que senti, naquele local, apesar do sofrimento que a morte traz, faz-me reafirmar o que a Maria escreveu “ Aqui o cuidar é diferente” e deve ser diferente.

Porque acho que ainda faltam alguns Serviços de cuidados Paliativos, dou os parabéns em quem lá trabalha e espero que se invista mais nesta área. Afinal de contas temos uma População envelhecida…

Gostei também da outra perspectiva no Criancices : 2Cuidar na Criança"!

Anónimo disse...

Na vmer sou chamada para inumeras situações de doentes em fase terminal.Chegados ao local deparamo-nos quase sempre com uma familia em pânico porque o familiar que ainda ontem falava e comia hoje não reage.E na mairia das vezes não têm um enfermeiro e médico de familia de referência a quem possam ligar ou que sequer lhes tenha feito uma preparação adequada para que possam lidar em paz com a morte próxima do ente querido.Na maioria das vezes após uma conversa com a familia e um telefonema feito por nós para o medico e enfermeiro do C.Saude tudo se resolve e conseguimos que aquele doente permaneça em casa com os seus e tenha uma morte digna e acompanhada.
Quando isto acontece e embora não seja esse o papel das vmer costumo dizer ao meu colega de equipa-missão cumprida.
Ainda há muito trabalho para fazer ao nivel dos cuidados paliativos mas felizmente vejo cada vez mais colegas empenhados e com excelentes projectos nesta área que é por excelência da enfermagem mais do que qualquer outro profissional.