25 setembro 2007

Chorava Copiosamente!!!

Podia ser,ser mais uma história esta que aqui vos conto, mas infelizmente é baseado, num episódio que me aconteceu. Todos os dias nos nossos locais de trabalho, cuidamos de pessoas, tendo um tempo estimado, calculado para atender cada um, trabalhamos ao segundo.

Lutamos contra a morte, defendemos a vida, em condições não ideais, com falta de meios recursos, com falta de descanso por vezes... Alguns serviços são mais complicados, ou seja envolvem muita gente, muita confusão, tempos de atendimento e prioridades muito bem definidas e interiorizadas mentalmente.

Foi neste cenário confuso, caótico, enfim numa Urgência, que conheci a senhora T, não tinha um diagnóstico nem uma prioridade emergente, nem grave, simplesmente estava doente. A sua vinda à Urgência, talvez até fosse evitável se o centro de saúde onde é seguido o tivesse atendido,mas a consulta só seria possível dentro de um mês, em suma veio ao S.U. por uma dor abdominal.

Após ter sido medicada e ter passado umas boas horas nas urgência a fazer horas que os exames chegassem e a medicação fizesse efeito, teve alta. Aproximei-me dela, conversei um pouco, aproveitei mesmo para fazer um ligeiro ensino para a saúde e após tudo isso esta jovem abraça-me e chora copiosamente.

Apanhado desprevenido, pergunto-lhe qual a razão, qual o motivo afinal ainda lhe doía algo ? A tudo respondia não, e soluçava copiosamente, sem conseguir parar. Após uns bons 10 minutos, consegui-se acalmar e tristemente confessou-se:

- "estou casada, tenho um filho (pequeno), o meu marido trabalha, mas o dinheiro, não dá para tudo, sabe sr. Enfermeiro, fiquei desempregada à pouco e ainda aguardo indemnização e carta de desemprego. Vim cá às urgências, após alguma insistência pois tinha medo do que teria que pagar. Agora tenho alta e tenho esta medicação toda para comprar e não tenho dinheiro, nem para os medicamentos, nem para pagar a consulta..."

Paramos, tanto Eu como o médico que entretanto tinha seguido o som dos soluçares e do choro. Tínhamos ali à nossa frente uma mulher jovem de trintas, deprimida, envergonhada e sem soluções para os problemas que tinha. Sinais dos tempos! Sinal da depressão económica em que vivemos!

Marcou-me, incomodou-me mesmo este episódio, no final resolveu-se(tratamos a parte aguda) apenas parte do problema, chamamos a assistente social e a medicação, bem como o pagamento do episódio de urgência foi pago.

Na confusão, no trabalhar ao segundo, quantas vezes não nos apercebemos das dificuldades de cada pessoa? Tudo surgiu numa simples conversa, num dialogo de ensino e de despedida de um serviço. Aconteceu-me e por isso aqui partilho aqui convosco...
Bom trabalho!
Ps: Obrigado ao Criancices pelos Prémios, deixaremos nos proximos Post resposta.

7 comentários:

Anónimo disse...

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Ana disse...

Infelizmente isso acontece muito no nosso pais. Quantas vezes as pessoas estão gravemente doentes e só vão ao médico quando não têm mesmo outra hipotese? :(
Beijos

Anónimo disse...

Ronc....

Ana G disse...

tiveste sensibilidade para observar e sentir esse episódio... mas quantos não passaram incognitos pelos hospitais e clínicas do nosso pais, sem que ninguem dê por nada?

Anónimo disse...

Sinais dos tempos o que quer dizer que temos que estar atentos, como a Ana em cima diz! Fiquei escandalizada com o artigo anterior e os comentários do Comandante dos Bombeiros, haja Consciência. "Conhecimentos minimos"

Mais uma vez sinais dos tempos em que só se irá avaliar as consequencias quando um parto não corra bem e "os conhecimentos minimos" como é logico não chegarem. Afinal para que é que temos Médicos e Enfermeiros Especialistas! Façam equipas de transporte!

Carla

Anónimo disse...

Olá. Obrigada pelo comentário no meu blog. Existe há pouco tempo e não o divulgo muito...
Gostaria de comentar este post que escreveste pois já me aconteceu o mesmo, e infelizmente mais de uma vez...
Trabalho numa urgência e cada vez mais vemos situações como esta que nos deixam muito tristes e com vontade de fazer mais, além do pagamento da consulta e dos medicamentos.
Muitas vezes além das carências económicas vemos carências a nível social e psicológico e sentimos que essas pessoas deveriam ter um acompanhamento quando saíssem da urgência... Quando me apercebo destas situações na minha educação para a saúde no momento da alta falo ao utente sobre isso, mas muitas vezes não podemos fazer muito, pois estão envolvidos problemas familiares muito complicados... Sinto sempre que poderia fazer mais, mas é difícil, muito difícil... Muitas vezes só o facto de falarmos um pouco sobre esse assunto, ouvindo o utente e dando conforto já é alguma coisa...
Pena que não resolve o problema, mas é o que podemos fazer no pouco tempo que temos para essa pessoa, porque infelizmente a outra ao lado também precisa de nós!

Rosa Silvestre disse...

Infelizmente, estes episódios acontecem mais vezes do que se julgam.
Bom trabalho também para vocês!